sábado, 10 de dezembro de 2016

AUÊ


        Os mistérios do teatro! Arte única por sua efemeridade. Uma plateia e o espírito de determinado espectador fazem hoje um espetáculo que jamais será o mesmo, mesmo que repetido sem nenhuma aparente alteração.
        Em uma sexta feira, dia 18 de novembro, após exaustiva jornada, fui à estreia do musical Auê, vindo do Rio de Janeiro carregado de elogios e de indicações para prêmios.
        O cansaço e uma plateia que beirava o histerismo nas reações e aplausos (uma senhora sentada na fileira atrás da minha urrava a cada momento “Lindo! Maravilhoso!! UUUUU!!!”) foram tomando conta de mim e criando um antagonismo em relação ao espetáculo. A partir daí foi só irritação e ao final saí bastante incomodado do teatro.
        Dias depois fui ouvir o CD que contém a trilha da peça. Surpresa! Adorei as músicas com belas letras e melodias. Entendi a proposta e fiquei muito propenso a rever o espetáculo, enquanto ouvia e reouvia o disco.
        Na reunião da APCA para escolher os indicados do segundo semestre, Duda Maia foi nomeada por votação na categoria “direção” e confesso que eu ainda não estava convencido.
        Tudo isso para contar que na noite de ontem fui rever AUÊ. As músicas, os intérpretes, a movimentação cênica eram as mesmas, mas eu não era o mesmo, nem a plateia. QUE DIFERENÇA!


        AUÊ é musical genuinamente brasileiro e originalíssimo. Posso garantir que nunca se viu musical como este. Os sete cantores/atores/compositores/multi-instrumentistas e o baterista nos cativam na primeira cena e só nos libertam com o coração cheio de alegria e emoção no saguão do teatro onde o espetáculo definitivamente termina.
        AUÊ não conta uma história, mas através das canções passamos pelas alegrias e dores que o amor provoca. Há muita emoção no trágico e longo monólogo Doideira de Amor escrito e interpretado por Eduardo Rios que remete tanto a Shakespeare como a Vicente Celestino. Ri-se muito com algumas músicas (Vida Doida/Coco, Voa Borboleta) e a emoção atinge seu máximo na triste canção final (Ali) interpretada visceralmente por Renato Luciano:

        “No canto da mágoa a dor de quem se foi
        E o sol quarando a mágoa
        A dor quarando a solidão”

        Não há como destacar este ou aquele intérprete. O elenco é harmonioso e poucas vezes tem-se visto em nossos palcos tamanha unidade. O grupo responde pelo sugestivo nome Barca dos Corações Partidos.

Elenco, no sentido horário, a partir do primeiro ao alto, à esquerda: Ádren Alves, Alfredo Del Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios, Rick de la Torre,  Renato Luciano, Rica Barros e Fabio Enriquez.

        A direção de Duda Maia aposta no talento e na versatilidade de seu elenco fazendo os rapazes realizar complexa coreografia enquanto cantam e tocam. A troca de instrumentos entre eles é um espetáculo à parte. A indicação de Duda Maia foi mais que merecida.
        AUÊ está em cartaz no Teatro FAAP apenas até o dia 18 de dezembro e não tem previsão de voltar ao cartaz em 2017, por isso CORRA, pois a emoção e a alegria que ele provoca não são coisas que se encontram fácil por aí. Sessões às sextas e sábados às 21h e domingos às 18h.
        Esta é uma matéria propositalmente apaixonada. Foi escrita ainda sob a forte emoção de ontem e ao som das belíssimas canções do espetáculo.
        A vida anda dura, mas...
        “Vai passar

        VIVA O TEATRO!

        10/12/2016

        

Um comentário:

  1. Faço minhas as suas palavras, Cetra. Também comentei este espetáculo no meu Instagram e não consegui ser desapaixonado.

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