quinta-feira, 3 de novembro de 2016

WIOSNA (PRIMAVERA)



        Com apenas 33 anos de idade Leonardo Moreira tem considerável carreira como autor e encenador. Carreira essa iniciada de maneira promissora com Cachorro Morto (2008), seguida da instigante Escuro (2009) e culminando com a obra prima O Jardim (2011), vencedora dos prêmios mais importantes outorgados naquele ano. Todos esses espetáculos foram realizados com a Cia. Hiato e sempre contaram com a colaboração de Marisa Bentivegna quer no desenho de luz quer no surpreendente espaço cênico criado para O Jardim.
        As pesquisas em torno dos limites entre ficção e realidade assim como a relatividade do tempo e os assuntos pessoais dos integrantes do grupo desembocaram em Ficção (2012). Ao aprofundar essas questões o grupo monta a não tão bem sucedida 2 Ficções (2014) apresentada ao público de duas maneiras diferentes. Radicalizando a questão das interferências da realidade na ficção e vice-versa o grupo monta Amadores (2016) formada em grande parte por relatos de não atores.
        Após sucessivo crescimento artístico com os três primeiros espetáculos, no meu entender, os três últimos apresentam problemas que aumentam na ordem em que foram criados e isso se deve, sempre no meu ponto de vista, à falta de dramaturgia consistente dos mesmos. Entendo que após a tão bem sucedida O Jardim o grupo perdeu parte da direção, fato compreensível após o imenso sucesso tanto artístico como de público da peça.


        Eis que por apenas quatro dias alguns poucos espectadores tiveram o privilégio de assistir no Sesc Belenzinho dentro da Semana do Teatro Polonês ao espetáculo que Leonardo Moreira escreveu e dirigiu para o Teatro Studio de Varsóvia. É o retorno do autor e encenador em grande forma inspirando-se de forma bastante criativa em Tchekhov (algo que ele já havia feito em 2 Ficções sem o mesmo resultado) e concebendo o espaço cênico com a divisão das plateias assim como em O Jardim (em ambos espetáculos a cenografia é de Marisa Bentivegna).
        Inspirado principalmente em Tio Vânia, Moreira escreveu lindo texto tratando da passagem do tempo, das dualidades que a vida apresenta aos seres humanos, dos sentimentos e do próprio sentido da vida e de sua finitude.
        A encenação é belíssima dando-se ao luxo de ter cenário construído em madeira clara que inclui o chão e até as cadeiras da plateia. Esse chão e esses móveis são feitos com madeira proveniente de uma árvore que foi plantada no dia em que o criado Stanislaw nasceu, segundo belíssimo momento poético do espetáculo. Ficção e realidade se mesclando harmoniosamente.


        O elenco é não menos que primoroso. Todos os atores atuam de forma naturalista, sem afetações. A participação de Stanislaw Brudny como o velho empregado é comovente. Do lado do cenário a que assisti, o papel principal ficou com o excelente Lukasz Simlat. Não pude avaliar o trabalho de Marcin Bosak que atuou do outro lado. Seria ótimo assistir ao espetáculo do outro lado da plateia. Os personagens têm o mesmo nome dos atores. Do lado a que assisti Marcin não aparece; ele está em estado vegetativo ou morto. O que acontece com Marcin do outro lado? Só perguntando para algum espectador que estava do outro lado. Instigações próprias de Leonardo Moreira. Brilhante!

        Quanto à Companhia Hiato aguardemos suas próximas encenações. Uma vez que Tchekhov tem sido presença constante em sua trajetória vejo no grupo o elenco ideal para montar As Três  Irmãs:
        Olga – Maria Amélia Farah
        Masha – Luciana Paes
        Irina – Aline Filócomo
        Natalia – Paula Picarelli ou Fernanda Stefanski
        Andrei – Thiago Amaral

        LONGA VIDA à COMPANHIA HIATO.

       ANTES TARDE DO QUE NUNCA: MIRADA 2014: HIATO À LUZ DO SOL








03/11/2016
       
       

        

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