terça-feira, 11 de outubro de 2016

PAI, FILHO, PAI


Uma peça dos tempos da delicadeza


       A peça de José Eduardo Vendramini trata da relação pai/filho, tantas vezes mostrada no teatro, de maneira diferente da usual permitindo-se até a linguagem meta teatral e certa fragmentação na narrativa e obtendo belo resultado final.
       A cena inicial onde o filho, ainda no ventre materno, recusa-se a nascer e o pai tenta convencê-lo que, apesar de tudo, vale a pena conhecer o mundo da natureza, do teatro e da música é antológica por sua singeleza e originalidade.
       Vendramini, que também assina a direção, brinca com o fazer teatral e os atores interpretam essa brincadeira de maneira bela e natural, acompanhados ao acordeom por Daian Gobbi que pontua e ilustra as ações com conhecidas melodias que vão de Villa Lobos a Piazzolla. Os poucos objetos de cena são contrarregrados pelos próprios atores. Cenografia e figurinos discretos e eficientes de William Pereira.
       Ademir Emboava tem perfil e segurança para interpretar o pai e o jovem Bernardo Bibancos, que estreia no teatro com seus tenros 19 anos, o acompanha brilhantemente, tanto nas cenas mais poéticas como onde se exige maior rigor dramático, como aquela que mostra o diálogo entre Creonte e seu filho Hemon da tragédia Antígone de Sófocles.
       A peça é um bálsamo de delicadeza para esses tempos conturbados que vivemos, tempos esses tão bem lembrados no prólogo da peça, quando os atores fazem um retrospecto dos fatos acontecidos no Brasil a partir da renúncia de Jânio Quadros em 1961.
       PAI, FILHO, PAI está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade às segundas e terças às 20h.

       11/10/2016

       

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