segunda-feira, 5 de setembro de 2016

ÓPERA URBE – Peste Contemporânea


MATERIA QUAE SERA TAMEN (Matéria ainda que tardia)

        O parco latim aprendido na escola nos anos 1950 e a lembrança da bandeira dos inconfidentes mineiros levaram ao subtítulo desta matéria. É lamentável escrever sobre um espetáculo que já saiu de cartaz, porém mais lamentável seria simplesmente não escrever, então vamos lá: neste momento é bem possível que a arena ao ar livre montada pelo Coletivo S.E.C.A. no Largo da Batata já não exista mais. Até o dia 31 de agosto ela foi palco da Ópera Urbe – Peste Contemporânea com dramaturgia e música de Carlos Zimbher e direção do guerreiro e sempre militante de causas nobres Rogério Tarifa.


        Por meio da relação de quatro amigos a peça conta e canta fatos ligados a fanatismo religioso, preconceito e perseguição com transexuais, negros, pobres e outras tantas violências que ocorrem no dia a dia de uma cidade como São Paulo, as tais pestes contemporâneas. A trama é acompanhada musicalmente por uma banda.
        Pelo tema tratado o espetáculo não poderia deixar de ser tenso, mas ao mesmo tempo é muito bonito e poético e conta com a atuação de elenco muito afinado tanto no cantar como no interpretar: o sempre extrovertido e naturalmente engraçado Eduardo Mossri encanta com seu ar de Petrucchio (de A Megera Domada) interpretando Cisco, o namorado da bela Eulalia, criada por Karen Menatti; Flavio Barollo empresta energia ao empertigado Boi; André Cesar mostra versatilidade nas várias fases por que passa seu personagem Mano e, finalmente, Leona Jhous que faz um discurso apaixonado e comovente ao final do espetáculo comentando as barbáries cometidas no Brasil com os transexuais. Rogério Tarifa, além da direção, atua com muita garra como um corifeu, anunciando as cenas e enfatizando as denúncias nelas contidas. O conjunto musical liderado pelo autor da peça tem ótimo desempenho e ilustra boa parte das cenas.


        Resta saber qual o destino do teatro construído pelo grupo. O ideal seria que ele fosse adquirido pela prefeitura e se tornasse um local fixo para eventos teatrais e musicais que iria enfeitar e humanizar de maneira muito digna o Largo da Batata.
        Torcemos também para que a ópera volte ao cartaz, pois cumpriu temporada muito curta e suas importantes reflexões sobre o mundo atual precisam ser vistas por um público maior.


05/09/2016

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