quinta-feira, 7 de julho de 2016

SACCO E VANZETTI





         Ensaio Aberto completa 23 anos neste ano de 2016. Liderada por Luiz Fernando Lobo  a companhia carioca iniciou suas atividades em 1993 com o espetáculo O Cemitério dos Vivos. O grupo declara-se empenhado em “...retomar o teatro épico no Brasil, na formulação de um pensamento de esquerda e na busca da superação do drama como forma cênica. Um teatro onde o solo do indivíduo desapareceu, onde o centro não está mais no indivíduo, mas no complexo das relações sociais”. A julgar pelo título dos espetáculos já encenados (A Mãe, o Interrogatório, Companheiros, Olga Benário-Um Breve Futuro, entre outros) e pelo atual Sacco e Vanzetti, o conjunto mantém-se fiel à sua proposta. Curiosamente a companhia é pouco conhecida em São Paulo, tendo se apresentado por aqui apenas duas vezes nesses 23 anos, com Missa dos Quilombos e Havana Café. O grupo tem sua sede no Armazém da Utopia (Armazém 6 do cais do porto do Rio de Janeiro).



        A chegada à recém-restaurada zona portuária do Rio já é um espetáculo. Um boulevard limpo e ajardinado, que margeia seis armazéns desde a Praça Mauá , nos conduz ao último, o de nº6, agora batizado de Armazém da Utopia. Ali estão a bilheteria do teatro, a lojinha que vende publicações e camisetas do Ensaio Aberto , um aconchegante café e o local onde acontece a peça.



        A saga trágica dos imigrantes italianos Nicola Sacco (1891-1927) e Bartolomeo Vanzetti (1888-1927), injustamente condenados e mortos na cadeira elétrica nos Estados Unidos, é um exemplo de intolerância e preconceito, uma vez que os mesmos eram anarquistas e imigrantes, “qualidades” que as reacionárias autoridades americanas não podiam suportar. Com o crescente aumento da intolerância e do ódio no mundo o retorno ao fato torna-se mais que oportuno.
        O texto do dramaturgo argentino Mauricio Kartun (1946) escrito em 1992 mostra um pouco da vida e do pensamento anarquista dos dois imigrantes antes do crime a que foram condenados e concentra-se nas cenas de tribunal onde eles foram julgados com os pareceres do advogado de defesa, do promotor e do juiz.
        Luiz Fernando Lobo concebeu seu espetáculo em um galpão onde a plateia em forma de U é formada por três arquibancadas que cercam o espaço cênico cenografado por J. C. Serroni. Algumas cenas acontecem nas laterais do galpão, além daquelas no palco central.


        A peça vai envolvendo o público de tal maneira que ao final do julgamento quando Vanzetti faz seu famoso e inflamado pronunciamento a emoção beira o insuportável: “O meu nome e o de Sacco serão lembrados para sempre. Quem vai lembrar-se do seu Juiz Thayer? E do seu promotor Thompson?” 



        Espetáculo épico por excelência, tem seus grandes trunfos na concepção cênica de Luiz Fernando e do afinado jovem elenco que transita com fluidez pelo amplo espaço e defende suas personagens com muita garra.  O grande destaque do elenco é Diego Diener que cria Vanzetti com muita energia e revolta. Cabe lembrar também de Gilberto Miranda (Sacco), João Raphael Alves (Thompson, advogado de defesa), Luiz Fernando Lobo (Thayer, juiz), João Rafael Schuler (Levangie, promotor) e de uma das atrizes (creio que Danielle Oliveira) que infelizmente não consegui localizar o nome no programa e que tem um emocionante pronunciamento quase ao final da peça.
        Sacco e Vanzetti é espetáculo para se guardar na memória pelo resto da vida de um espectador. Emociona na medida certa e nos faz refletir sobre situações ocorridas há quase um século e que apesar de todo o avanço  ocorrido nesse espaço de tempo parecem ocorrer com maior frequência, haja vista os crescentes ódio e intolerância desse indivíduo tão evoluído tecnologicamente.
        A peça estreou em 2014 e está em sua quarta temporada. Quem for ao Rio de Janeiro não pode perder este pungente espetáculo que dificilmente (e infelizmente!!) tem chance de cumprir temporada em São Paulo em função do numeroso elenco e da necessidade de amplo espaço para abrigá-lo.

        SACCO E VANZETTI - Armazém da Utopia: Av. Rodrigues Alves, Armazém 6. Cais do Porto. Tel: (21)2253-8726. Sextas às 20h, sábados e domingos às 19h. R$40,00. VERIFICAR SE A PEÇA CONTINUA EM CARTAZ!

05/07/2016

        

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