sexta-feira, 10 de junho de 2016

GABRIELA, UM MUSICAL


UM DIVISOR DE ÁGUAS

        Finalmente um musical brasileiro que foge dos padrões impostos pelos espetáculos oriundos da Broadway e que aqui foram copiados e banalizados à exaustão. Nada de cenários suntuosos nem de cenas apoteóticas: o que vale é contar uma boa história calcada em sólida dramaturgia e embalá-la com canções populares brasileiras.
        Todos conhecem a “boa história”: trata-se do romance Gabriela, Cravo e Canela escrito por Jorge Amado      em 1958 e que se popularizou via três versões para a televisão e um filme. Mais dia, menos dia ia chegar ao teatro e esse dia chegoupelas mãos de João Falcão: sua adaptação teatral estreou no último dia 08 de junho de 2016 no Teatro Cetip na forma de musical. Falcão privilegiou não só a relação entre a protagonista e o turco Nacib, mas também as tramas paralelas e os personagens secundários dando bom panorama da sociedade baiana da época.
        O espetáculo não tem cenários e usa um mínimo de objetos de cena, valendo-se da bela iluminação de Cesar de Ramires e de três esteiras (duas paralelas à plateia que percorrem o palco de ponta a ponta e uma vertical no centro do palco) para criar todas as ambientações exigidas para o desenvolvimento da trama. As esteiras, que ele havia usado de forma exemplar em A Dona da História (1999) são aqui bastante utilizadas e o resultado é muito bom dando sugestivo efeito do movimento dos atores em cena.
        A trilha sonora é formada por canções brasileiras de épocas e autores diversos. Se algumas delas soam fora do contexto (caso de Cais e O Que Será?), outras se encaixam perfeitamente à trama (Vatapá, Sem Fantasia, Mamãe Coragem e, é claro, as Gabrielas de Dorival Caymmi e de Tom Jobim).
        O elenco é homogêneo cantando e atuando muito bem, mas alguns destaques são necessários: Leo Bahia (Josué) e Juliana Linhares (Glória) formam carismático par e são responsáveis por um dos melhores momentos da peça ao interpretarem Sem Fantasia; as alcoviteiras/fofoqueiras são vividas com muito humor por Almério e Vinicius Teixeira; Maurício Tizumba (velho Tuísca) conduz com propriedade a narrativa da história; Danilo Dal Farra tem presença cênica, simpatia e bela voz como Nacib e , finalmente, Daniela Blois que estreia em teatro e já desponta como uma estrela. Paraense que vive em Manaus, Daniela é formada em medicina e é cantora; tem belíssimo timbre vocal e seu brejeiro e sensual gestual em cena combina perfeitamente com a personagem. Sonia Braga que me desculpe, mas Gabriela encontrou em Daniela sua mais perfeita tradução.

Daniela Blois - Foto de Roberto Setton

        GABRIELA, UM MUSICAL está em cartaz no Teatro Cetip às quintas e sextas (21h), sábados (17h e 21h) e domingos (18h) até 07/08.
        Até você, que torce o nariz para musicais, vai adorar.


10/06/2016

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