terça-feira, 22 de março de 2016

BLANCHE


MAIS UMA DO MESTRE ANTUNES



        Antunes Filho volta a surpreender a começar pela escolha de um homem para interpretar uma das personagens femininas mais importantes e icônicas da dramaturgia mundial. Ela surgiu em 1947 no teatro norte americano pelas mãos de Jessica Tandy e foi imortalizada no cinema por Vivien Leigh(1951). No Brasil Blanche Dubois já foi vivida por Henriette Morineau (1950), Maria Fernanda (1965), Eva Wilma (1974), Tereza Rachel (1986), Leona Cavalli (2002) e Maria Luisa Mendonça (2015); agora é a vez de Marcos de Andrade trazer à luz a frágil e sofrida personagem.
        Retomando e radicalizando a estética de A Falecida Vapt Vupt encenada em 2009 o encenador volta a apresentar um espetáculo no Espaço CPT iluminado apenas com as lâmpadas do local, sem uso de refletores e com reduzidos objetos de cena. O único recurso extra-interpretação usado é a inserção de algumas músicas para ilustrar a ação (trilha sonora selecionada por Raul Teixeira). A casa da irmã Stella não tem portas (as cortinas do espaço servem como tal); a campainha é ouvida pelo som emitido por  quem a toca; os atores mimicam o comer, o beber e o lavar a louça. Tudo se passa como se fosse um ensaio... mas não é um ensaio! Coisas do Mestre Antunes que como sempre resultam em algo inovador e surpreendente.
        Falado em fonemol (qual seria a diferença com gromelô?) a ação torna-se totalmente compreensível para quem conhece a peça de Tennessee Williams uma vez que esta é seguida quase à risca. Para facilitar o acompanhamento da trama é fornecido ao público um roteiro com a sinopse da mesma cena por cena.
        Há a clara intenção de denunciar a violência física e moral com mulheres e travestis e isso é evidenciado com a ênfase na cena do estupro muito bem estilizada pelo diretor.
        Com tal radicalismo na encenação a peça exige muito dos atores que são praticamente o único recurso cênico da mesma. Marcos de Andrade compõe uma Blanche perfeita; sem afetações e maneirismos inúteis ele comunica ao público a graça e a fragilidade da personagem emocionando na medida certa. Outro bom destaque é Alexandre Ferreira com seu patético Mitch. Andressa Cabral se sai bem como Stella, mas falta a Felipe Hofstatter a brutalidade exigida para interpretar Stanley Kowalsky, coisa que fica mais patente com o figurino “arrumadinho” usado por ele (fica difícil acreditar que Stanley use aquele robe de chambre). O restante do elenco cumpre o seu papel.
        Volto a repetir que a interpretação de Marcos de Andrade é tão perfeita que após o estranhamento inicial, esquecemos que estamos diante de um homem travestido, mas sim perante uma frágil senhorita perdida, à procura de um bonde chamado desejo.

        BLANCHE está em cartaz no Espaço CPT do Sesc Consolação de quarta a sexta às 20h e aos sábados às 17h até 30 de abril.


22/03/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário