terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

VOLPONE

UMA DUPLA DO BARULHO

        A peça do autor inglês Ben Jonson (1572-1637), contemporâneo de Shakespeare, já teve duas montagens anteriores em São Paulo: em 1955 no Teatro Brasileiro de Comédia com direção de Ziembinski e tendo o mesmo como Volpone e Walmor Chagas como Mosca e em 1977 sob a direção de Antônio Abujamra com Laerte Morrone e David José como a dupla central e contando ainda com Laura Cardoso e Beth Goulart (na época com apenas 17 anos) no elenco. Não assisti a nenhuma dessas montagens, mas duvido que Volpone e Mosca tenham encontrado intérpretes mais acertados do que Chico Carvalho e Gabriel Miziara nesta pandega montagem de Neyde Veneziano.
        Neyde Veneziano assume totalmente a estética da Commedia dell’Arte acrescentando ainda uma pitada da ironia “grosseira” de Dario Fo, do qual é profunda conhecedora, obtendo resultado não menos que hilariante. Ri-se muito das artimanhas do Sr. Raposão e do seu fiel (mas nem tanto!!) escudeiro Mosca na busca desenfreada de bens materiais à custa de ludibrio, corrupção e troca de favores. Qualquer semelhança com a situação atual do nosso triste Brasil não é mera coincidência e a montagem deixa isso muito claro.


        O engenhoso cenário de Cássio Brasil substitui a carroça de antigamente por uma caixa que vai se modificando á medida que a ação assim o exige. A encenadora conta ainda com a bela iluminação de Fran Barros e a trilha de Ricardo Severo executada ao vivo e que comenta e ilustra a ação.
        A interpretação do elenco de apoio está em total sintonia com a proposta da encenação, mas quem brilha é a dupla do barulho. Poucas vezes temos visto em nossos palcos tamanha cumplicidade e sintonia. Os esgares e os movimentos das mãos e pés de Chico Carvalho somam-se aos ágeis movimentos corporais de Gabriel Miziara dando um impar rendimento cômico. Impossível não se lembrar de duplas geniais tanto personagens (Arlequim e seu patrão, Puntilla e Matti) como intérpretes (Oscarito e Grande Otelo e o Gordo e o Magro).


        Infelizmente na noite em que assisti ao espetáculo a atriz Eliana Rocha não pode fazê-lo e sua personagem foi suprimida. A personagem é uma viúva tão arrivista como todos os outros senhores que vão visitar Volpone e sua ausência pode provocar - como bem lembrou o produtor Ronaldo Diaféria - uma sensação que a montagem é machista, o que, absolutamente, não é a ideia. Isso é um bom motivo para rever a peça, o que não será nenhum sacrifício, muito pelo contrário, pois a hora e meio de riso que Volpone provoca é irresistível.
        VOLPONE está em cartaz no Teatro MUBE Nova Cultural (ao lado do MIS) às sextas e sábados às 21h30 e aos domingos às 20h30 até 13 de março.

        LEMBRETE: Se quiser fazer uma sessão dupla para comprovar o grande talento e a versatilidade de Chico Carvalho assista CONSERTANDO FRANK em cartaz no mesmo teatro aos sábados (19h) e domingos (18h) também até 13 de março.

- Consertando Frank -

09/02/2016


Um comentário:

  1. Zé, lendo seu texto fui ficando com mais e mais vontade de ver o espetáculo. E, como ainda não assisti Consertando Frank, terei que fazer dupla jornada. Bjs

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