segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MEMÓRIAS DE ADRIANO

Foto de Renato Mangolin

        O livro Memórias de Adriano finalizado em 1951 por Marguerite Yourcenar foi um verdadeiro fenômeno de vendas na década de 1970 quando lançado no Brasil. Texto de difícil compreensão com linguagem elaborada e sofisticada e sem a menor concessão curiosamente tornou-se best seller, concorrendo com os livros de Sidney Sheldon nas listas dos mais vendidos. Era comum ver mocinhas com o livro debaixo do braço, apesar de que a maioria delas não passaria da décima página.


        Thereza Falcão tomou para si a difícil tarefa de transformar o volumoso livro em texto teatral de pouco menos de uma hora com linguagem coloquial e acessível, mas sem banalizar a ideia central do livro e o resultado é muito mais que satisfatório. A dramaturga consegue apresentar as grandezas e fraquezas do imperador romano, sua amizade com Plotina (esposa do seu antecessor Trajano), seu grande amor pelo jovem Antínoo e a morte prematura deste, a escolha do seu sucessor e, principalmente, seus pensamentos políticos e humanistas.
        Texto dessa densidade necessitava de um grande intérprete e Luciano Chirolli mais uma vez demonstra seu grande talento interpretando Adriano. Mesmo antes do terceiro sinal Chirolli já envolve o público de maneira intensa fazendo o pedido desesperado de Adriano: “Ajudem-me a morrer!”.
        Por coincidência este início de ano está marcado por excelentes monólogos todos eles usando o recurso de acompanhamento musical ao vivo: Uma Ilíada com Bruce Gomlevsky que fez temporada relâmpago no Sesc Pompeia, ao qual não assisti, mas ouvi ótimas referências, O Testamento de Maria com Denise Weinberg, ainda em cartaz no Sesc Pinheiros e este Memórias de Adriano onde Chirolli é acompanhado pelo músico Marcello H, que chega a narrar alguns momentos da ação.
        A direção de Inez Viana é precisa valendo-se da discreta cenografia de Aurora Campos (o sugestivo painel ao fundo revela a fragilidade do corpo tão bem enfatizada por Adriano, assim como a banheira onde ele jaz moribundo), da precisa iluminação de Tomás Ribas e, é claro, da iluminada interpretação de Luciano Chirolli.
        A proximidade da morte acaba trazendo certa paz ao imperador que já não pede que o ajudem a morrer, mas serenamente esforça-se para entrar na morte com os olhos abertos. A ovação do público atesta a grandeza do texto e a admirável composição de Chirolli.

        MEMÓRIAS DE ADRIANO está em cartaz no Centro Cultural São Paulo até 28 de fevereiro às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 18h30. ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL.


08/02/2016

Um comentário:

  1. ai, quero ver. eu quase fui na segunda semana. adoro essa autora, esse não é o meu livro preferido dela. o meu preferido é obra em negro. daria um belo filme. mas amo todos os seus livros, entre meus autores preferidos. adoro o ator tb. ontem vi as benevolentes e comentei no meu blog. maravilhoso. beijos, pedrita
    http://mataharie007.blogspot.com.br/

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