segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CIA. LUDENS E O TEATRO DOCUMENTÁRIO IRLANDÊS.


INTRODUÇÂO

        A Cia. Ludens foi fundada em 2003 por Domingos Nunez e Beatriz Kopschitz Bastos e se dedica ao estudo e difusão da dramaturgia irlandesa e suas conexões com a realidade brasileira. A difusão é feita por meio da encenação de peças de autores irlandeses e promoção de ciclos de leituras.
        Já foram encenadas cinco peças: Dançando em Lúnassa de Brian Friel (2004 e 2013), Pedras nos Bolsos de Marie Jones (2006), Idiota no País dos Absurdos de Bernard Shaw (2008), O Fantástico Reparador de Feridas de Brian Friel (2009), Balangangueri, o Lugar Onde Ninguém Ri de Tom Murphy (2011) e realizados quatro ciclos de leitura: Teatro Irlandês do Século XX: de Yeats a Friel (2004), Teatro Irlandês do Século XXI: A Geração Pós Beckett (2006), Bernard Shaw no Século XXI (2009) e o recente (2015) Teatro Documentário Irlandês, objeto desta matéria.

Dançando em Lúnassa - Montagem de 2013

TEATRO DOCUMENTÁRIO ou DOCUDRAMA

        Ao meu modo de ver é necessário fazer uma distinção entre esses dois termos:
        Docudrama é, segundo definição não creditada da Wikipédia, “um estilo de documentário que apresenta de forma dramática a reconstituição de fatos, utilizando-se atores para isso”. O teatro documentário é mais radical fixando-se nos documentos em que se baseia; ele, segundo Patrice Pavis, “só usa, para seu texto, documentos e fontes autênticas, selecionadas e montadas em função da tese sociopolítica do dramaturgo”, colocando em segundo plano a forma dramática, acrescentária eu.

O CICLO

        Apresentado durante seis terças feiras (de 20/10/2015 a 24/11/2015) no Teatro Eva Herz, o ciclo apresentou a leitura dramática de seis peças com a curadoria de Beatriz Kopschitz Bastos e coordenação da mesma e de Domingos Nunez. Após a leitura foram realizados debates com a presença do autor (com exceção de Sem Saída, cuja autora já faleceu), do diretor da leitura, do tradutor e de teóricos do assunto. Em todas as sessões foram realizadas pequenas palestras sobre Brian Friel, um dos mais importantes dramaturgos irlandeses, nascido em 1929 e falecido em 2015.


        Cinco dos exemplos trazidos para esse ciclo encaixam-se em teatro documentário e o interesse dramático dos mesmos está restrito ao tema que apresenta. O tema tem que ter carga dramática e atingir ampla gama de questões e interesse humanos.
        Mácula de Hugo Hamilton (sobre um menino que se vê em um confronto de identidades entre a mãe alemã e o pai irlandês na Irlanda dos anos 1950) e Sem Saída de Mary Raftery (sobre violência e abusos sexuais sofridos por crianças nos educandários irlandeses administrados por entidades católicas) são bons exemplos de peças que tratam de temas com alto teor dramático e de interesse geral e que dariam, caso fossem montadas, bons resultados cênicos. Já Descendo da Perna de Pau: Yeats e o Abbey Theatre de Aideen Howard e Garantido! de Colin Murphy podem interessar a quem estuda teatro ou economia, respectivamente, mas tornam-se bastante tediosos para o público em geral, assim como, Titanic: Cenas de Um Inquérito de Owen McCafferty que trata de tema espetacular e de interesse geral, mas que restrigindo-se a depoimentos torna-se também enfadonho. Dificilmente esses três textos poderiam resultar em bons espetáculos por maiores que fossem a imaginação e o talento de seus encenadores.
        Já Diários de Roger Casement, texto em processo de Domingos Nunez, é construída a partir de documentos históricos sobre o irlandês Roger Casement que teve vida com trajetória  espetacular constituida de atos heróicos e situações conflituosas como o descobrimento dos seus diários negros, que podem resultar em estimulantes momentos dramáticos. Além disso, Nunez utilizará recursos musicais para ilustrar a saga de Casement. É teatro baseado em documentos, mas com certeza fugirá de certa monotonia que ameaça o gênero. Aguardemos a sua montagem, programada pela Cia. Ludens para ser apresentada em 2016.

Elenco e autor/diretor (primeiro à esquerda, sentado) da leitura de Diários de Roger Casement




14/12/2015

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