segunda-feira, 11 de maio de 2015

POTESDAT


Foto de João Caldas

        O roubo (apropriação) de crianças pelos agentes da ditadura militar argentina (1976-1983) é tema recorrente em obras realizadas que tentam resgatar esse momento atroz da história da humanidade. Um dos exemplos mais significativos e melhor realizados sobre o assunto é o filme A História Oficial (1985), dirigido por Luis Puenzo e com interpretação memorável de Norma Aleandro.
        A peça Potestad de Eduardo Pavlovsky em cartaz no Sesc  Pompeia trata do assunto de forma bastante original. Tendo como premissa o conceito de banalização da maldade assim batizado por Hannah Arendt, a trama mostra um médico simpático e bonachão que, se não participou, ao menos compactuou com as forças repressoras e em certa ocasião teve a oportunidade de se apropriar de uma criança filha de guerrilheiros mortos, após terem sido torturados. Criada com muito amor pelo médico e pela sua esposa, anos depois, a criança é reconhecida pela família biológica e é retirada do casal.
        A ação se passa quando o protagonista lamenta a perda da filha amada e o estado letárgico em que sua mulher se encontra após essa perda. O médico inconformado clama por justiça e passa seus dias rememorando os dias felizes em que ele e sua mulher tinham sua filhinha Adriana. Humanizando a personagem, Pavlovsky nos faz refletir sobre o fato que a maldade não precisa ter cara feia para agir.
        Numa interpretação bastante diversa de seus últimos trabalhos, Celso Frateschi desempenha o médico com muita humanidade enfatizando a proposta do autor, lembrando um pai/avô portenho de origem italiana. Chegamos a simpatizar com ele e lamentar a sua sorte, porém, fica claro que o perigo está exatamente nessa aparente normalidade/humanidade do repressor.
        A presença, a partir de certo momento, da personagem Zita (uma amiga? uma assistente social?) em nada contribui para o desenvolvimento da trama não ficando clara a razão de sua participação.
        A direção de Pedro Mantovani centra-se no trabalho do ator que se movimenta no discreto cenário criado por Sylvia Moreira.

        Nunca é demais relembrar os desmandos das ditaduras militares que grassaram nos países latinos americanos na segunda metade do século XX e reforçar sobre o peso de seus nefastos efeitos sentidos até os dias atuais. Lembrar é resistir. Relembrar é alertar sobre os perigos da volta de regimes totalitários.

        Potestad está em cartaz no Sesc Pompeia de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 19h só até o dia 17 de maio. NÃO DEIXE DE VER.

 

10/05/2015

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