segunda-feira, 12 de maio de 2014

VIDAS PRIVADAS ou QUEM TEM MEDO DOS PATRULHEIROS?


 
     Nos anos 1960/1970 de triste memória, se por um lado a ditadura proibia o acesso a qualquer obra que contivesse a menor menção contrária a ela, por outro lado as chamadas patrulhas ideológicas ligadas aos opositores do governo também procuravam cercear o acesso àquelas obras rotuladas de alienadas e pequeno burguesas. Assim, para qualquer militante que se prezasse era “proibido” gostar de A Noviça Rebelde ou de uma música que só falasse de amor e flor. Estamos em 2014, e os ares hoje são outros, mas mesmo assim nos deparamos com reações preconceituosas quanto externamos que gostamos de um musical ou de uma comédia inteligente. Pois bem, patrulheiros de plantão, informo-lhes que adorei Vidas Privadas, em cartaz desde sábado (10/05) no Teatro Jaraguá!
     Vidas Privadas é uma comédia, dita de boulevard, escrita em 1930 pelo dramaturgo inglês Noël Coward (1899-1973) e que tem sua origem nos vaudevilles franceses. A novidade está no modo como o autor trabalha o tema central que trata das dificuldades e das hipocrisias inerentes às relações conjugais. De certo modo, o segundo ato da peça é um precursor das lavagens de roupa de suja de casais que se tornaram constantes no teatro após o advento de Quem Tem Medo de Virginia Woolf de Edward Albee.
Noël Coward
 
     A elegante e divertida peça de Coward encontra sua correspondência na deliciosa montagem de José Possi Neto com tons fortemente cinematográficos dos anos 1930 desde a abertura com os letreiros apresentando a ficha técnica do espetáculo, passando pela trilha sonora de Tunica (que já havia feito a trilha da montagem de 1986, dirigida por Emílio Di Biasi) e Aline Meyer, pelas entradas e saídas precisas do elenco no primeiro ato, pela divertida troca de cenário do primeiro para o segundo ato feita em ritmo de cinema mudo por dois divertidos contra regras e, finalmente,pelo estilo art déco tanto no mobiliário como nos figurinos.
     Para realizar um espetáculo desse tipo é necessário um elenco bonito, carismático e, é claro, talentoso e o diretor foi muito feliz na escolha do mesmo. Lavínia Pannunzio (sempre poderosa em cena e com ótimo tempo de comédia) e José Roberto Jardim (caindo de charme em seu novo look sem barba e com os cabelos mais curtos e “abrilhantinados”) formam o belo par central. Chiques, sofisticados e muito irônicos ambos esbanjam talento e dão um show em cena. Os momentos mais divertidos são divididos com Daniel Alvim e Maria Helena Chira que se saem muito bem principalmente na última parte da peça.
     A encenação de Possi Neto conta com uma ótima equipe de apoio graças à eficiente produção de João Federici: nos cenários (Marco Lima), nos figurinos (Fábio Namatane), na iluminação (Wagner Freire), nas já citadas responsáveis pela trilha sonora e na maquiagem dos atores (caracterização por Westerley Dornellas). Esses elementos conjugados e harmonizados pelo encenador resultam num todo competente e profissional.
     Vidas Privadas é um espetáculo comercial que difere bastante das comédias grosseiras que grassam pela cidade e que merece ser prestigiado por um público que busca entretenimento inteligente e divertido. Em cartaz no Teatro Jaraguá às sextas às 21h30, aos sábados às 21h e aos domingos às 19h.

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